Só banda larga não basta

https://i0.wp.com/www.gazetadopovo.com.br/midia/tn_620_600_laptop_1105!.jpg
Aula com uso do computador em escola pública de Araucária: docentes fizeram curso para usar o equipamento em classe

Capacitar os professores para usar a internet em alta velocidade nas escolas é tão importante quanto dar a infraestrutura necessária

Publicado em 12/04/2011 | LUÍS CELSO JR.

Um projeto de lei no Congresso que propõe levar internet em alta velocidade às escolas públicas brasileiras reacendeu a discussão sobre o uso da tecnologia em sala de aula. Para especialistas, a ideia de instalar banda larga é boa, mas não é garantia de que os conteúdos escolares serão transmitidos com mais qualidade. “Isso é o primeiro passo. Para ensinar a nadar, é preciso ter piscina. Mas só ela não significa nada”, explica o professor José Armando Valente, coordenador-associado do Núcleo de In­for­­mática Aplicada à Educação (Nied) da Universidade de Cam­­pinas (Unicamp).

Segundo ele, quando se fala em tecnologia na escola as ideias ainda estão muito ligadas a questões de infraestrutura, como acesso a equi­­pamentos, laboratórios e co­­ne­­xão, e inclusão digital, que objetiva ensinar a mexer em computadores, usar softwares e hardwares. Já para ensinar conteúdos, a tecnologia deve ser um meio, não um fim. É preciso ensinar como lidar com a tecnologia para o processo de ensino e apren­­dizagem. E isso tudo passa por uma figura central na escola: o professor.

Capacitar os docentes para fa­­zer uso desses recursos é tão im­­portante quanto dar a infraestrutura necessária. “Esse é o grande problema. E não é só no Brasil. É em todo o mundo”, diz Valente. Ele ainda explica que as tecnologias são bastante recentes e mesmo países desenvolvidos, como Inglaterra e Finlândia, ainda têm modelos muito tradicionais de ensino. “É uma questão que depende de tempo para se alterar”, diz.

Para a professora Glaucia da Silva Brito, coordenadora pedagógica da área de Educação a Distância da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora do uso de tecnologias na educação, as próprias licenciaturas devem mudar para atender às necessidades da sociedade atual. “Hoje temos de ter consciência que a sociedade é tecnológica, e a escola tem que fazer parte disso. Mas ela está atrasada. A própria formação dos professores tem que mudar. Está na hora de se pensar de forma diferente”.

Falta de confiança

Recursos tecnológicos assustam 85% dos docentes, diz pesquisa

Uma pesquisa realizada na Unicamp revela que 85% dos professores não se sentem confiantes para usar os recursos tecnológicos no processo de ensino em sala de aula. O material é resultado da tese de doutorado em Psicologia da Educação de Cacilda Alvarenga, que investigou 253 professores em 27 escolas da rede municipal da cidade. “O principal objetivo foi verificar a autoeficácia, que é um conceito da Teoria Social Cognitiva que trata da crença do indivíduo na capacidade de planejar e usar determinadas ações para atingir resultados. Nesse caso, usar a tecnologia para ensinar em sala de aula”, explica Cacilda.

Segundo a pesquisa, essa crença influencia a motivação das pessoas para realizar tarefas e fazer escolhas.

Entre os diversos resultados da pesquisa, as condições contextuais foram apontadas como principais dificuldades para o uso da tecnologia. “Em minha opinião, que é a de quem pesquisou, estudou e trabalhou com isso, a escola pública infelizmente não olha muito para as condições de trabalho do professor. E essa realidade [de uso da tecnologia em sala de aula] não muda se o professor não tiver apoio correto, tempo para aprender a lidar com esses recursos, uma remuneração adequada etc.”, explica. (LCJ)

Quando usar o computador em sala?

Não há “fórmula de bolo” para usar recursos tecnológicos em sala de aula. Cada conteúdo tem um formato diferente de trabalho, mais ou menos propício ao uso da tecnologia. E quem decide o que usar e quando é o professor. “Por isso ele tem que ser formado para usar tecnologias. É ele quem decide quando usar só o quadro de giz ou o computador e recursos multimídia”, diz a professora Glaucia da Silva Brito, da Universidade Federal do Paraná.

Para o professor José Armando Valente, da Unicamp, a tecnologia mal chegou à escola e já está ficando cada vez mais sofisticada, com uso de câ­­meras de foto e vídeo, animações etc. “Não adianta colocar no computador a mesma coisa que era feita com lápis e papel. É necessário explorar o recurso do digital”, opina.

Um por aluno

Em Santa Cecília do Pavão, município do Norte Pio­­­­neiro do Paraná com cerca de 3,5 mil habitantes, o programa Um Com­­putador Por Aluno (UCA), do governo federal, distribuiu computadores portáteis para os 980 alunos das redes municipal e estadual da cidade. As escolas receberam internet banda larga e rede sem fio. E os professores fizeram curso sobre o uso do equipamento em sala de aula.

Araucária, na região me­­tropolitana de Curitiba, tem um projeto semelhante. O UCA distribuiu 7 mil computadores portáteis. Cerca de 15 mil alunos são beneficiados, segundo a se­­cretária da Educação, Maria José Dietrich.

“Não adianta nada disponibilizar o equipamento se não houver formação. E não só para os professores, mas para todos os pedagogos e funcionários da escola. Nossa ideia é que essa formação seja continuada”, explica.

 

 

 

 


Deixe um comentário

search previous next tag category expand menu location phone mail time cart zoom edit close